terça-feira, 31 de julho de 2007

Não sei que encanto encontro,
numa folha de papel,
numa caneta meia roída.
E que inspiração tenho,
que desvaneio rascunhos.
Dizem que é o amor à palavra.
Azar o meu.
Antes a constipação me pegasse.

sábado, 28 de julho de 2007

Até os olhos te miam,
quando me apareces à porta;
e as patas pesam-te o andar,
como se levasses ouro nos bigodes.
Balanças-te, majestoso,
e essas pérolas negras em pano verde,
reclamam-me.
Pintava-te um retrato, gato.
Mas já deixaste a porta vazia:
no seu lugar uma longa sombra
e um miadinho afinado.

Rindo, imagino pois,
a passadeira vermelha em que te passeias.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Rosa tua que guardo,
impura, fervente,
deixa-a desabrochar,
tornar-se incandescente,
quente, quente, quente.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

- Conheces o mundo?
- O meu?
- Tens um?
- Talvez. Tu não?
- Não sei. Achas que devia?
- Porque não?
- É bonito?
- O quê?
- O teu mundo.
- Ás vezes.
- Porque não sempre?
- Era bom se fosse sempre?
- Eu gostava.
- Arranja um.
- Como o faço?
- Como o queres?
- Igual ao teu.
- Podemos ter um nosso.
- Podemos?
- Sempre.

domingo, 8 de julho de 2007

Caixa rouca que se abre,
(coisa velha, de avô)
em branco de luz se escancara,
derrama segredo,
apresenta-se, enaltece-se,
em brilho, em mistério.
Lá dentro nada tem.

O profundo suspiro
de espera, reticência,
embarcando a rouca, velha caixa,
desnuda pois somente o tesouro.

Naquele fundo de madeira,
o silêncio.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Entre garfadas e tinir de copos, conversas desencontradas, odores e sabores, movimentos desajeitados, pratos, panelas, frigideiras e afins, pouco mais importa ou se espera.

É, afinal, hora de almoço.