quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A maior angústia da vida
é a louca procura de certezas.
Pois que o efémero não satisfaz
e o sonho não se alonga além do tempo.
Resta a vigília infortuna,
o despertar que não se concebe por inteiro.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Distante é a palavra caída,
deixada como trapo no soalho.
A lonjura de um poema,
deixado vazio num copo.
Nada aqui me inspira,
nada tem luz ou noite.
E escrever do que não sei,
não se me afigura.
Por isso, parto.
Levo a imaginação inútil na mala,
e mala ao ombro, lá vou eu.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Lá vai o navio, vela ao vento,
piratas somos nós que passeamos no convéns.
Que ilha procuramos, se já vamos em viagem?
Ternurenta é a quentura dos dias, a mansidão repentina das marés.
Quando se enlaçam as cordas ao som da espuma perdida,
ganha a rota mais aventura no desenho rasgado do caminho,
e aroma doce é o das ondas salgadas
enquanto escreve a pena, letras soltas no amarelado pergaminho.
O paraíso que se procura,
o tesouro, brilhante, fogoso, jamais o esconde a areia.
O que importa são as amarras soltas e o embalo das águas,
a partitura serena, o canto imaginado da doce, lua sereia.
As grutas que se exploram,
as mãos que dançam no fervilhar do mar,
são tudo poemas, canções plenas,
o que se quer é segredo, escondido no vaidoso, fugido, olhar.
Triste é a ida sem regresso,
a emoção da viagem que se perde,
a chuva solene no guarda-chuva que não mais se experimenta,
e o esquecer do sol quente no embrulho das nuvens.

E triste é quando se apaga o sonho,
quando as palavras não escrevem mais
do que a última frase que acaba a história.

As calçadas que nunca se caminharam já foram,
as longas horas nos livros e nas pinturas não têm retorno
e tudo o que fica,
nada é.

Triste é pois a saudade,
a prespectiva de um amanhã solitário
e um depois que desejo que não venha.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008


As janelas que se abrem
são cortinas que esvoaçam,
caminhos que se descobrem
no claro e húmido pano do céu.
E são canteiros e flores,
nascidas e desmaiadas
na palidez dos dias perdidos.
Janelas são saídas, são entradas,
são brisas e corridas fugidas do vento,
caixilhos de luz e de caras,
vidas tecidas nas horas silenciosas,
viajantes nos relógios de cucu.
As janelas são pousios, são encostos,
são braços pousados, mãos marcadas
no frio mármore envelhecido.
São baços vidros ou brilhantes vistas,
horizontes desenhados, aqui tão perto.
Janelas tenho-as eu,
E são espelhos de pássaros
e vidas todas numa só.


Janelas tenho-as eu.
Tenho-as na alma e sei-as de cor.