quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008


A experiência de uma luz
que me abarca neste círculo,
nada é senão a chama que me aquece,
a vela que trago ardida no meu espaço.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Espelho, o sorriso macio daquele rosto
enche-me a garganta de cantigas,
a alma poeta de fortunas.
Liberta-me do que me consome,
sara-me as feridas brotadas na pele,
que já não ardem, já não cansam.
Não escorre mais do que tenho,
e se tenho pouco, pouco mostro,
no reflexo entrecortado de mim mesma.
O que me resta naquele espelho,
é somente aquele rosto.

Moldura duma primavera que madruga,
duma fonte que acorda num reluzir de cristais.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Gatinho, gatinho,

que estás à janela,

doçura com olhinhos de bombom.

Não me deixes ir embora,

deixa-me aqui esquecida,

que é tão bom, bom, bom.


Fotografia: Sintra
Se ainda os palácios tivessem gente,
se reis e rainhas (e padres nos púlpitos),
falassem do alto (que os mais altos eram eles),
imagino que reino seria este,
este, que no esquentar do sol,
vive na solidão e amargura de se ser português.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Não mais canta Epheu no mármore que o talhou,
ficou imóvel a lira dourada em que os dedos se enterlaçam.
As cornucópias vazias na poeira sumida,
cheiros doces os do jardim exótico, enevoado,
caminho solarengo e espreguiçado o que se avizinha.
Apetecíveis os labirintos esquecidos,
ouvem-se as águas escorrentes, a luz do exterior já brilha ténue.
Ao inferno merecido se ascende o espírito solto e livre
e rugem os leões na pedra, voam os pássaros para lá dos muros.

E passados os muros, há cidade.
Agora é-se algo mais.


Fotografia: Quinta da Regaleira, Sintra

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Mata-se a sede que se acerca da palavra


e segue o rio, galgante nas pedras e perdas do caminho.

Fotografia: Caminha, 4 Fev.